quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Inteligência tem um código



Por: Fábio Freire


As formas como agimos nos impressionam pelas quantidades e diversidades. São atitudes que fogem o controle da lógica baseadas em ações progressivas e, por diversas vezes espontâneas. Que tipo de estrutura nos faz ser criativos, solidários, generosos, cativantes e saturados de prazer?


Por que tem pessoas que se tornam arrojados, debatedores de ideias e construtores de conhecimento? Outros, embora tirem excelentes notas escolares, não os interpretam, e tornam-se medrosos e fracos, apenas repetidores de ideias?


É unanimidade que para ter excelência no que se faz é preciso praticar, repetir e muitas vezes chegar à exaustão. Todas as vezes que se busca competitividade, precisa-se repetir uma ação buscando sempre a perfeição. Parece uma neurose, o ser humano sempre busca ser o melhor no que exerce. O treinamento é baseado em repetições. É fato que essa idéia permeia todos os setores. Na época da aplicação da nanotecnologia e da biotecnologia, a era do treinamento é o foco. Treina-se para praticar esportes, andar em veículos automotores, aprender a calcular e escrever, manusear um computador, operar máquinas. Treina-se para manusear e criar programas, criar e elaborar projetos, melhorar o vigor físico, comandar exércitos de guerra. É treinando que se tornar o melhor apreciador de vinho, o melhor observador da qualidade dos produtos... 


O ser humano aprendeu a atuar no teatro social com brilho, mas não no teatro psíquico, onde é preciso filtrar estímulos estressantes, gerir seus pensamentos, proteger sua emoção. Somos tímidos espectadores onde deveríamos ser ágeis atores.
No dia-a-dia, a mente pensa tolices, a emoção dá crédito a elas e o eu ingênuo, que não aprendeu a decifrar os códigos da inteligência, paga a conta por não saber filtrar os pensamentos. A vida tão bela se torna, assim, uma fonte de angústias. Decifrar os códigos da inteligência não é um luxo intelectual, mas uma necessidade psíquica vital! (CURY, 2008).
 

Mas a humanidade esqueceu-se de exercitar a excelência que está no nosso corpo, o cérebro. O mecanismo mais complexo já observado. O maior sistema de telecomunicação já criado. Quando tudo parecia ser exato na era do treinamento. É percebível que cometemos um erro ridículo. Esquecemos de entender os códigos que existem no nosso cérebro.


Entretanto, quando tudo parecia perfeito na era do treinamento, eis que ao olhar para as mazelas psíquicas e sociais das sociedades modernas constatamos que cometemos um gravíssimo erro histórico.
Esquecemos de realizar o mais importante treinamento, o treinamento para decifrar e aplicar os códigos da inteligência. Sem eles não podemos desenvolver nosso imaginário, nossa capacidade de superação das intempéries e nossas potencialidades intelectuais (CURY, 2008). 


Nas nossas vidas existe o código de defesa do consumidor, civil, penal, segurança nos cartões de créditos, postal, barras, ética, genético, ambiental e, entre outros. E o cérebro não precisa de código? Código é definido no dicionário como um conjunto de leis, regras e preceitos para determinado fim. Como qualquer outro setor, no cérebro também é preciso entender e estabelecer padrões. 


Segundo o psicólogo Augusto Cury[1], os códigos da inteligência são capazes de estimular as pessoas a libertar sua criatividade, expandir a arte de pensar, desenvolver a saúde psíquica e excelência profissional. Pessoas que decifram plenamente alguns destes códigos saem do rol dos comuns e se destacam na vida social, profissional ou acadêmica. CURY chama códigos às funções da inteligência porque diz que não basta admirá-los nem entendê-los logicamente. É preciso decifrá-los intimamente, desvendar os seus segredos, ter disciplina e treinar para assimilá-los.


Muitas vezes acordamos fatigados, sem energia, com emoções fóbicas, apreensivas, parece que a janela da memória não está aberta. Sem espaço para emoções prazerosas, serenas, desafiadoras. Segundo o psicólogo, resolveremos esses problemas fazendo uma seletividade da memória objetiva protegendo assim, nossa mente contra o congestionamento de pensamentos e imagens mentais e idéias. Ele cita que o ser humano utiliza a memória exaustivamente. Pensando e desgastando excessivamente. 


Todos esses sintomas são gerados pelas armadilhas providas na mente humana. Para ele as armadilhas da mente bloqueiam a capacidade de decifrar os códigos da inteligência e são construídas ao longo do processo de formação da personalidade humana. São elas: 


·     O conformismo: É a arte de não reagir e de aceitar passivamente as dificuldades. O conformista é inerte e mentalmente preguiçoso na área em que se considera incapaz e acredita que tudo é obra do destino. 


·     O coitadismo: É o conformismo potencializado, a arte de ter compaixão de si mesmo. O coitadista espera sempre que os outros o encorajem, lhe digam coisas positivas. Pode ser ótimo com os outros, mas em geral se auto-abandona, não cuida de si. 


·     O medo de reconhecer os erros: É o medo inconsciente de se assumir como ser humano, com defeitos, fragilidades e incoerências. Sabemos que errar é humano, mas insistimos em sermos deuses. 


·     O medo de correr riscos: Bloqueia a ousadia, a liberdade. É impossível eliminar todos os riscos. A existência em si já é um contrato de risco. Todas as grandes conquistas são frutos de ações com risco.


Esses códigos são capazes tanto de estimular jovens e adultos a libertar a criatividade, expandir a arte de pensar, desenvolver saúde psíquica e a excelência profissional, como também, criar as armadilhas da mente que facilmente caímos e que podem bloquear a inteligência.
O cérebro é responsável direto pela gestão das nossas ações: a intuição criativa, a autocrítica, o altruísmo (ser solidário), a resiliência (superação de crises). 


Entender como o cérebro atua e, portanto tornar gestor do intelecto para treinar os mecanismos atuantes é aprimorar a qualidade da vida, assim como as outras áreas do corpo precisam ser treinadas e exercitadas, nosso cérebro também necessita ser ativado. E, assim usufruir do potencial existente na “máquina” mais complexa já vista no universo. Ricos e miseráveis, psiquiatras e pacientes, líderes empresariais e liderados, não têm, por melhor que sejam, um potencial psíquico global contraído por não decifrar plenamente os códigos da inteligência.

 
REFERÊNCIAS:


CURY, Augusto. O código da Inteligência. Ediouro: Rio de Janeiro, 2008.



[1] Autor do livro O código da inteligência: é um livro que descreve de maneira instigante, inteligente e, o mais importante, simplificada o complexo processo de formação de pensadores. Neste livro, o autor indaga: “Em que espaço se ensina a decifrar o código do filtro dos estímulos estressantes? Onde se educa a capacidade do eu como gestor psíquico? Em que instituição se aprende o código da resiliência para superar adversidades. E o código do altruísmo e da intuição criativa, onde são decifrados?” E ainda afirma: “Somos uma sociedade doente que tem formado pessoas doentes”.