quarta-feira, 24 de agosto de 2011

É PRECISO RECICLAR NOSSOS PENSAMENTOS PARA QUE POSSAMOS AGIR CORRETAMENTE.


 Por Fábio Freire

Um diálogo nesta última semana me fez refletir bastante. O comportamento humano era a pauta a ser debatida. O que leva o ser humano ser como ele é? Que valores influenciam e/ou determinam epistemologicamente a natureza do ser? Se agregam a determinados grupos e conceitos enquanto se afastam de outros. Lugares, pessoas, assuntos, comidas, cores, conceitos, nos agradam mais que outros. O mundo complexo do comportamento. Nada complicado hein!

Estávamos falando mais especificamente, sobre os valores que determinam e/ou influenciam os pensamentos, as emoções e principalmente as ações particulares do ser humano.
O problema se agrava bem mais quando entramos na esfera da corrupção seja ela política[1] (que nos saltam bem mais aos olhos) ou não: desvio de verbas, pagamentos indevidos, compras de apoios, suborno, superfaturamentos... É um desfilar que não acaba mais de improbidades. Safadeza, instinto, trapaça...

A corrupção está atrelada a politica de maneira que a politica hoje é vista como uma forma de governo. O fato é que politica rima com corrupção e, corrupção faz lembrar politica.
Mas o que leva o ser humano a agir assim? Têm-se todas as chances de agir de maneira ética, moral... com a conduta modular exemplar, respeitando princípios da humanidade, seja ela religiosa ou não, as normatizações...

Costumo falar que na vida tem uma batalha que vale a pena ser enfrentada sempre. É a luta pela a dignidade coletiva.

Para todo esse lamaçal que envolve os sistemas de governo pode-se tentar explicar embora não o justifique: é bem mais prático fazer caixa dois que trabalhar. Agora, o prático nem sempre é o certo. Falamos de ética, moral, amoral, imoral... Conduta proveniente de valores internos para um determinado fim. Agir fora do padrão tem um objetivo, sabe-se lá qual, mas tem. Mas é assim! Roubam, mentem, enganam...

Para o filósofo Mario Sérgio Cortella a ética é o conjunto de valores e princípios para decidir as três grandes questões da vida que são: o quero, o devo e o posso. O problema é que muitas coisas a gente quer, mas não pode, quando pode não deve e quando deve não quer. O tripé da ética é derrubado e um ponto, dois ou até os três ao mesmo tempo. Estamos em paz de espírito quando essas três condições são atendidas. Quando o que queremos é o que podemos e também é o que devemos fazer.

A ética vai se construindo com os valores e não existe ninguém sem ética. O politico que engana, o fiscal que frauda, o professor que não ensina, esses têm a ética fora da nossa ética ele é antiético, mas não existe ninguém sem ética.

Amoral é quando não se pode decidir, escolher e julgar, por exemplo, uma criança menor de idade, um idoso com patologia cerebral, uma pessoa considerada demente. A justiça denomina isso de incapaz.

Ser moral é quando existe a prática de uma ética. Diferenciando ética seria a concepção, ou seja, o princípio. Por exemplo: princípio ético - não pegar o que não me pertence. O comportamento moral é se eu roubo ou não. O princípio de ética traduz numa moral. Por outro lado o princípio ético seria não pegar o que não me pertence, enquanto o comportamento moral seria se eu roubo ou não. A moral é definida como a prática de uma ética.

Já o imoral depende da moral que se pratica e ela está na referência que se tem por traz do fato, da ação e da época, por exemplo, um beijo homossexual, depende muito de como o beijo é visto como conceito.
Enquanto a ética não é relativa, a moral é relativa. Carta dos direitos humanos é a ética universal – toda criança e idosos devem ser respeitadas. O conceito é absoluto.

Por outro lado o comportamento do ser humano está intrínseco também no normal e no natural. O que define o normal e o natural? Comportamento ético, moral, amoral, imoral... Que valores se têm para definir as ações?

Vamos às explicações: ser natural significa ser próprio da natureza. Por exemplo, algumas crianças nascem deformadas: cegas, com as cabeças unidas, um membro menor que o outro e até mesmo mortas. Se isto é natural, por outro lado não é normal, isto é, não segue o padrão, a norma. Normal vem de normalidade baseado na ideia de seguir um padrão.

Baseado no comportamental pode-se constatar que é natural o gato saltar sobre o rato e abatê-lo, o leão devorar um coelho, um touro atacar o toureiro provocador. Por que é natural? Porque seu comportamento segue o instinto. Então, no animal, o natural e o normal se identificam, porque seu comportamento tem por fundamento o instinto.

Transferindo para os humanos, o comportamento instintivo também é natural quando se revida fisicamente uma agressão. Isto é instinto. Mas no humano o agir instintivo, embora seja natural, não é normal. O agir humano alça-se a outra esfera, a moral ou ética.  

Daí que no humano, o normal é agir de acordo com as normas morais e éticas. Para tanto, quem age de forma diversa deverá ser corrigido, não fisicamente, mas moralmente, embora ainda existam outras formas, como castigos físicos, ou formas extremas, como a pena de morte.

E onde se inspirará o ser humano para estabelecer o comportamento normal, ético? Evidentemente que será no seu natural peculiar, que não é o instinto e sim a razão. O natural do homem é sua razão. Pela razão, escravizar o semelhante, embora instintivamente seja natural, é anormal. E como se faz para encontrar o normal no comportamento humano? É no autodescobrimento[2], na reflexão. O homem se descobriu humano não quando contemplou o universo, a terra, os seres que o rodeava, mas quando se flexionou sobre si mesmo.  Consciência de si e autoconhecimento foram atos instantâneos e primeiros do ser humano. A reflexão lhe deu a racionalidade.

Robert Wong o autor do livro “O sucesso está no equilíbrio” idealiza uma nova tradução para a famosa frase de Shakespeare, To be or not to be, that is the question, "Ser natural ou estar normal, eis a questão". A ideia é que não devemos temer o que somos, porém estarmos sempre dispostos a desenvolver o autoconhecimento.

O fato é que nunca devemos tentar ser igual a ninguém: “Vejo muitas pessoas assumindo atitudes de outras que consideram como referências, sejam elas boas ou ruins”. É inoportuno tentar ser sensível se não for, amigo senão for, agradável se não for, feliz se não estiver... Uma hora ou outra tudo vai se revelar de maneira espontânea.  Costumamos denominar essa ação de revelação da natureza da pessoa - isso significa agir da forma vista no seu comportamento, deixando de lado o autocontrole.

Robert Wong fala que não dá para ser normal nem natural o tempo todo, mas quanto mais natural você for, melhor. Portanto, quando respeita e se integra às leis da natureza está sendo natural; quando aceita as normas sociais é normal. "Combine seu jeito natural com o normal de forma equilibrada e amplie seu poder e influência", aconselha Robert.

Acredito que algo faz o ser humano ser assim como ele é, trazendo para tal a essência. O ser humano possui ações metaforizadas na água que modifica sua forma, porém a sua essência não se modifica nunca. Será que podemos mudar comportamentos? O fato é que sempre devemos tentar. A receita seria provocar e instigar no ser humano a forma de pensar, o modo de observar os conceitos, os fatos, a natureza, os comportamentos. Enfim, dá uma chance para os novos pensamentos. O que costumo chamar de abrir a mente e, assim saindo do apego a conceitos absolutos individuais ou não.

Indico começar com a politica dos quatro 4R (reduza, reuse, recicle e respeite). Em miúdos seria a politica de valorizar o que a natureza nos doou, respeitando a vida, os animais, as plantas e o que nutre o nosso físico e a alma, não desperdiçar alimento, roupa e, principalmente tempo, tomando irresponsavelmente o tempo dos outros com "conversa mole".

Se mudarmos nossos pensamentos, poderemos potencializar tudo ao nosso redor e influenciar positivamente para que outras pessoas também possam melhorar os comportamentos e, assim refletirem ao redor de si.

REFERÊNCIAS:
CORTELLA, M. S. Qual a tua obra? 6.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
WONG, Robert. O sucesso está no equilíbrio. 9.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.


[1] Política denomina arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; aplicação desta arte aos negócios internos da nação (política interna) ou aos negócios externos (política externa). Nos regimes democráticos,a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância.

[2] Em filosofia, o autoconhecimento ou conhecimento de si é ou um objeto de investigação epistemológica ou é a finalidade de uma busca de natureza ética. Quando visto como objeto da investigação epistemológica, o que se busca é a explicação de como e o que é conhecido. Quando visto como projeto ético, o que se busca é a realização de algo que leve o sujeito a ser mestre de si mesmo e, consequentemente, um ser humano melhor. O autoconhecimento algumas vezes é obtido através da meditação, que é uma prática oriunda da ioga, e da psicoterapia (como a psicanálise, entre outras).